quarta-feira, 3 de setembro de 2025

A Busca de Sentido

 

        Gasta-se a vida em busca de sentido. Do sentido que temos dentro dela. Não do sentido da vida em geral, mescla de seres animados e inanimados que povoa este mundo que para muitos é de Deus e para tantos será outra coisa. Sentido que nos pertença como homens, o sentido de cada um no mundo pequeno que lhe coube, ou conquistou, ou. E que foge. Se transmuta. Perde-se e readquire-se. Em cada mutação há um florescer por entre pedras, progressiva força ou debilidade, mas sempre afirmação vital. Quanta gente cresce e envelhece sem que a questão lhe aflore a mente. Há uma ignorância feliz, robusta, que se nega o mais que pode ao sofrimento alheio. E vêm as desculpas, não posso ver; sou muito sensível; faz-me mal. Acontece muito com a experiência da morte ou a sua proximidade. Mas quem vê, quem “sabe” do sofrimento alheio; quem, por bem querer, assiste filhos, pais, cônjuges, amigos, gente que se não despega do afecto. Esses, que sentido encontram, que processo os levará a refazer o círculo sempre incompleto do sentido?! Não sei, mas é certo que hão-de levantar-se; depois da tempestade, a bonança.

16 comentários:

  1. Ui, o sentido da vida... Pano para mangas esse assunto.

    Eu às vezes tento buscar sentido é a nível laboral... De resto? Agora com o pequeno, a vida ganhou todo um novo significado.

    Cláudia - eutambemtenhoumblog

    ResponderEliminar
  2. A Cláudia ganhou um novo sentido:). Julgo cada vez mais que a busca de sentido é necessidade muito humana e nem de todos. Encontramos o que queremos. E queremos que haja sentido.
    Boa tarde, Cláudia

    ResponderEliminar
  3. Assisti o meu pai naqueles que sabíamos ser os últimos dias de vida dele.
    Difícil, doloroso?
    Claro.
    Voltar as costas?
    Não posso imaginar maior acto de egoísmo.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A maioria das pessoas morre no hospital ou num lar absolutamente sós; são eles e a morte. Não sei se é o pior, muitos estão já sem acordo. A ideia romântica de estar até ao fim é tanta vez impraticável. Assisti meu pai em agonia e estar ali ou não era indiferente, senti em pleno ser a sua entrega à morte, coisa entre ambos e onde mais nada cabia. Tudo que era da vida estava ultrapassado.
      Mas aquilo a que me refiro é sobretudo o acompanhamento durante a doença, o processo de degradação de alguém que amamos. A hora da entrega não nos pertence.
      Bom dia, Pedro

      Eliminar
  4. O sentido da vida é algo que se vai encontrando, às vezes muda consoante as etapas que vamos vivendo. Basicamente sempre achei que a transformação das pessoas e do mundo para melhor era aquilo que me movia mas com a consciência de que só o conseguia fazer em micro mundos. Também não me custa cuidar quando o afecto está lá. Dia bom!

    ResponderEliminar
  5. A CC pôs em palavra - mais ou menos - o que sinto em relação ao assunto. A gente conhece uma pessoa que conversa e domina a sua parte física, que vai onde lhe apetece ou precisa, tem desejos e planos, etc. E assiste ao fenómeno de essa mesma pessoa ir mudando num ser outro, tolhida de tudo, até da palavra; e não sabemos se nos entende porque o olhar se tornou também vago, alienado do habitual; que não sabe comer, andar, sequer pegar num talher, que se engasga e sufoca com os alimentos e a água mesmo com o anti espessante. E, se vemos, se assistimos, não podemos deixar de nos perguntar pelo sentido de tanto sofrimento, de tanta alteração num único ser. Breve deixará de ensaiar o nosso nome dado que apenas o sim e o não são ainda audíveis.
    Lembro-me de ter ouvido um frei agora em voga dizer que o inferno vive-o cada um durante a vida, não é algo separado. É possível. Mas quem merece este tipo de inferno?!

    ResponderEliminar
  6. É verdade, a consistência do tecido social tem como alimento agregador o afeto.
    Abraço de amizade.
    Juvenal Nunes

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Correcto, Juvenal. O ponto é que existem outros factores que agregam; à força, de forma fictícia, por puro malabarismo de palavras e exploração de sentimentos e emoções. Podemos dizer que não são verdadeiros, nem íntegros; que mobilizam o que há de negativo nos humanos...Tanta coisa poderíamos dizer. O facto é que também são gregários e mobilizam multidões. Olhando-os mais de perto, sabemos que agregam para dividir, que chamam pelo egoísmo, acendem os preconceitos, dissuadem o pensamento crítico.
      Coisas.
      Bom fim de semana, Juvenal

      Eliminar
  7. São aflorados aqui em texto principal e em comentários duas situações: a do sentido da vida em geral e a do sentido da doença e da degradação do ser humano.
    Excelentes abordagens. A doença faz parte da vida, nem todos têm a sorte de morrer a dormir. E depois há o sentido da desgraça em potência; que sentido faz o infortúnio da criança que sobrevive à tragédia do elevador da Glória ao colo do polícia ante a morte dos pais?
    E porque se distrai Deus nestes momentos? Ou por que ínvios caminhos nos conduz?
    Gostei quando diz Kant e Pessoa e ainda mais da nossa busca de sentido quando encontramos o que queremos e queremos que haja sentido. Creio que para muitos a realização pessoal é o grande sentido da vida, assim como o dinheiro é a mola real da vida. E também acho que a CC foi lapidar - os tempos vão nos mudando.
    Obrigada por nos fazer pensar Bea.

    ResponderEliminar
  8. Que o tempo nos muda é mais do que uma evidência, sente-se na pele, afecta-nos o pensar e o agir. A mesma situação tem resposta diversa se acontece aos quinze ou aos trinta; e ainda mais quando o fim da estrada se avista e o autocarro em que seguimos já começa a abrandar.
    Essa criança não pensa no sentido da vida, sofre a perda irreparável que a afecta hoje e sempre, embora o tempo e a circunstância venham a diluí-la um pouco. Portugal será sempre para ela um pesadelo.
    Penso em todos os que sofreram a incúria dos nossos serviços; e no que alguns comentadores vaticinaram: qualquer dia acontece no Metro, lugar sem escapatória e muito frequentado. É impossível não pensar nos que morreram e nos que sofrem a perda; impossível alienar os que no hospital lutam pela vida. São todos inocentes, mas há dezasseis que acabaram ali. De chofre. Atirados contra uma parede. Poderia ter sido eu, um dos meus filhos, alguém querido. Ignoro se há um destino, se sim, a maioria das vítimas veio de longe procurá-lo (lembra-me o conto "esta noite em Samarcanda").
    Bom, isso de as minhas palavras fazerem pensar...é como dizia Sócrates, "não se pode dar vista a olhos cegos".
    Bom dia, Joaquim. Goze o fim de semana.

    ResponderEliminar
  9. O sentido da vida vai encontrando rumo aqui e ali, definindo um caminho e tentando chegar à meta sem grandes atropelos!
    Bom fim-de-semana Bea 😘

    ResponderEliminar
  10. Penso muita vez que não existe sentido; é, por necessidade, pura construção da mente humana. O sentido seria assim uma espécie de ordem necessária, de luta contra o absurdo da vida. Talvez mesmo pura vaidade do homem que continua a ver-se como o rei da criação.
    De outras vezes, agrada-me haver sentido.
    Boa tarde, Gracinha

    ResponderEliminar
  11. O sentido da vida talvez seja o acordarmos todos os dias e agradecer por isso; talvez seja o tentarmos ser melhores pessoas, aprender com os erros, valorizar o que nos dá prazer, estar presente com os que nos são queridos, evitar conflitos, respeitar as diferenças, etc,etc.
    E esperar nunca estar no lugar errado há hora errada. Aí, não há fé, Deus ou religião que nos valhe. Nem o sentido da vida.

    ResponderEliminar
  12. Digamos que, na sua perspectiva, Dulce, o aperfeiçoamento do viver consigo mesmo e com os outros é ou cria sentido. O resto é puro acaso e sorte, nada de destino. O ponto é que, vezes demais, o acaso, a sorte e até o destino para quem nele acredita, são a cama onde se deita tudo o resto. Dá que pensar; e ser grato a continuar por cá.
    Bom Dia:). Com a desejada chuva. Só para variar.

    ResponderEliminar
  13. Efectivamente: relevo a frase "não se despega do afecto". Isso sinto, desde sempre. Com quem conheci e com o sofrimento de outros. É muito peso, muitas vezes, muito tempo. Mas o mundo é assim "muito controverso". E as pessoas também. Um dia destes li num livro de John Banville "O passado pulsa dentro de mim como um segundo coração", gostei do sentimento expresso. Às vezes há estrelas cadentes nas palavras dos outros. Abç Bettips

    ResponderEliminar