Nas
férias, paulatinamente, vão chegando as visitas que me são caras. Regressam os
que emigraram. E os outros. Estes, porque só o calor os retira do casulo;
aqueles, porque são meus amigos mas têm
vida assoberbada; os outros, porque resolveram actualizar memórias. Todos vivem
longe demais, queixa-se a minha saudade solitária. já vai para três Verões que os distribuo pelas
minhas semanas, no desejo de atender todos e cada um com vagar e certo conforto
carinhoso. E se há quem agradeça mas não seja pobre de esmola e tenha o amor a
rodeá-lo, outros existem para quem estes mimos e cuidados de férias são únicos.
Não há quem providencie outros e ao longo do ano lhes seja oásis.
Agosto
vê-os chegar. E partir. A amenizar o vácuo da partida, deixam promessa de voltar
antes das próximas férias. Não os censuro. Mas quanta vez a vida se intromete e
é impeditiva. No mês de Agosto a casa
descaracteriza de tão usada, enche-se dos cheiros e adereços de quem vem,
passos estranhos sobre o chão, ritmos de acordar e adormecer que são novos,
mãos a fechar portas de outra forma. Gente nova a imiscuir e misturar as
rotinas, desorientando-lhe os ritmos.
Na cozinha anda solto certo ar de desbunda desarrumada, as refeições quase
pegam umas com as outras, a chaminé vai aos arames com a nervoseira de
exaustão, mas este movimento no fogão nunca mais pára?! Queixam-se as flores no
quintal a apontar relógios biológicos, está na hora da rega. E nem uma gota
lhes cai a refrescar o caule ou desliza pela sede da terra até à radícula. Por
ali estão, orelha murcha, esqueceram-se de nós. Assim é o síndrome de privação
de coisas e plantas. Não há como elas
para sofrerem a ausência do quotidiano. Se passo, lançam-me olhares tão
desconjuntados e pretensamente indiferentes, tão cheios de orgulho ferido e ciumeira
que me sobe um borbotão de ternura e
apetece ir por cada caule, festejar corola a corola, desculpar-me a cada botão.
E
agora que todos partiram e o mundo da casa retoma lugar, cada coisa a voltar a
si, vens tu. Tu, que há séculos não me visitas e a quem custei a convencer a
voltar. Assegurando e assegurando. Tu, cujo regresso sempre esperei. Porque a
amizade tem lugares certos e rituais necessários. E vou ali
pedir às flores que não emburrem, amanhã segue o programa quotidiano. Mas hoje,
é favor que me fazem: abram uma excepção, não abominem a minha falta de zelo. Bem
sabem que não se podem servir dois senhores em simultâneo. E hoje o dia enche-se de Ti:).