O
final de ano é-me tempo de gratidão. Não
sei porquê, mas repasso o que e quem me foi importante em 2022; tarefas de que
retirei algum prazer; surpresas que surgiram e gostei. E não apetece à pena
debruçar-se sobre gestos infelizes, malvadezas pequenas, agasturas que
corroeram o quotidiano e verei repetidas até ao fim dos meus dias. Coisas.
Portanto,
e pela ordem enunciada, verifico que o mais prazeroso foram as poucas viagens
realizadas - o meu luxo. Transigi bastante, tomei balanço e viajei; quem não
tem cão, caça com gato. Foi assim. E quanto valeu a pena! Não existe palavra
para o êxtase que nos possui na contemplação da beleza. Apreciar o belo é parte
da água que me mantém viva. Ajoelho perante Deus que assim me dispôs espírito e olhar, e emprestou coragem para
sobrevoar a mágoa e usufruir do que me alimenta. Bendito seja Deus (e eu).
Em
2022, ninguém me mereceu importância particular: as amizades mantêm-se dentro
do que a distância e a vida de cada um impõem; e as (poucas) novas caras deslizaram,
são pó. Das tarefas, saliento a leitura, forma de evasão e descanso mais
utilizada. Que boas surpresas terei tido?! Decerto uma ou outra sem memória. Bom, talvez um vídeo com uma entrevista a Joan Didion que me comoveu e
levou ao livro “O ano do pensamento
mágico”; ou, no Aljube, a conversa emocionada e entusiasta entre Francisco
Fanhais e garotos de duas ou três escolas. Francisco Fanhais é um Homem. Tenho
absoluta certeza que aqueles garotos saíram com outra ideia do que foi o 25 de
Abril; cientes do espírito dos cantores de intervenção e da sua acuidade na
história da revolução; com ideia cimentada do que seja uma profunda amizade; contentes
do testemunho; a conhecerem melhor Fanhais e, por decorrência, José Afonso.
Para Fanhais e Didion, ambos exemplares, a minha eterna e efémera gratidão.
E, por último, sou grata aos bloguers. Aos que, desinteressadamente, publicam o que vou lendo e seguindo passo a passo. Remetem-me para as questões diárias que não acompanho nos media por ser anti notícia; oferecem-me (a mim e a todo o colectivo) pequenas pérolas que, digitalmente falando, descomprimem brevemente. Acompanham-me; não sendo, propriamente, companhia. Porque também me comentam. São o mal e o bem da modernidade. Não me retiram tempo devido ao presencial, prefiro a presença a tudo que seja escrito, o olhar a qualquer sinal gráfico, o calor de um sorriso a todas as imagens, por mais belas. Sou pelo desencanto real na vez do encanto digital. Mas a vida é o que é. E hoje também é o mundo digital a que me liguei há muito ano, a mente prenhe de ideias falsas mas bem intencionadas. Por esse laço digital, bem hajam. E que o novo ano nos encontre nas janelas uns dos outros e nas próprias. Contando. Sempre contando. Um abraço virtual (sei lá eu o que isso é) e, mau grado as nuvens que o ensombram, o meu desejo sincero para 2023: que traga alguma coisa de bom e memorável. Com a saúde possível, amor ao presente e incólume capacidade de projectar.
Sempre
vossa
Bea